Parar de fumar é parte fundamental do programa de reabilitação cardíaca da Clínica Cardiosport. E como dia 29 de agosto é a data oficial de combate a este hábito tão nocivo, nós convidamos o Dr. Lourenço S. de Mara (CRM/SC 8939), para uma entrevista.
Abaixo, você irá encontrar informações importantes sobre os prejuízos causados pelos cigarros. Vai entender por que é tão importante parar de fumar. Boa leitura!
1) Por que o cigarro faz tão mal à saúde? Quais as principais doenças associadas?
Dr. Lourenço: O cigarro contém mais de 4.700 substâncias químicas. Com a combustão, o fumante inala tais substâncias, dentre elas: a nicotina, que causa dependência, o monóxido de carbono, que é o mesmo liberado pelos carros, o cádmio que emite radiação. Além de pesticidas, policíclicos, metais pesados e etc.
Das substâncias tóxicas inaladas, pelo menos 69 delas causam câncer – segundo dados da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer. Elas afetam o código genético das células (DNA), o que leva ao desenvolvimento do câncer no pulmão, na laringe, na bexiga e em vários órgãos do corpo.
Fumar pode causar a destruição da estrutura do tecido pulmonar, levando ao enfisema. Também pode ser um fator de risco para doenças do coração, como o infarto do miocárdio, e dos vasos sanguíneos periféricos, como a doença arterial obstrutiva periférica.
2) Os impactos do tabagismo podem ser maiores em pessoas com problemas do coração?
Dr. Lourenço: Os malefícios do hábito de fumar são universais, independente da presença de um problema cardíaco já diagnosticado ou não. O fumante apresenta um risco 5 vezes maior de sofrer um infarto do miocárdio em relação aos não fumantes.
A partir do momento que há uma doença já diagnosticada, como por exemplo uma doença arterial coronariana que levou a um infarto, devemos entender que as exposições a que o indivíduo sofre a partir deste momento são determinantes do seu prognóstico. Elas são fatores que influenciarão o curso ou desfecho futuro da doença. Assim, podemos dizer que pessoas que têm uma doença cardiovascular diagnosticada e mantêm o hábito de fumar têm um prognóstico muito pior em relação aqueles que têm a mesma doença, porém não fumam.
3) Para o senhor, qual o primeiro passo que deve ser dado por quem quer parar de fumar?
Dr. Lourenço: Parar de fumar é um desafio para a maior parte das pessoas devido a dependência química da nicotina. Há ainda fatores que estimulam o consumo e que são fracamente combatidos, como a propaganda veiculada pela indústria e o baixo preço do tabaco. Além disso, existem aspectos multifatoriais na esfera psicossocial, educacional e cultural que devem ser trabalhados e incentivados na direção do combate ao tabagismo.
Em um estudo interessante que realizamos em 1996, abordamos mais de 1000 pacientes que procuraram voluntariamente o serviço estruturado de apoio à cessação do tabagismo. O serviço oferecia, durante uma semana, orientação quanto aos malefícios do cigarro, apoio psicológico e assistência médica.
Os indivíduos foram acompanhados durante doze meses. Na oportunidade, verificamos que apenas 20% dos fumantes pararam de fumar. Destes, um percentual significativo obteve sucesso apenas após a terceira tentativa. O estudo nos alertou da importância de políticas públicas que conscientizem a população da importância de não iniciar o hábito de fumar, haja visto a dificuldade em se livrar do vício.
Desta forma, entendo que o passo mais importante é investir de forma contundente e contínua na educação e conscientização dos malefícios dos cigarros. Além, obviamente, em leis que desincentivem o consumo e possam proteger o não fumante.
Para aquele que já é fumante, o ideal é buscar ajuda de um serviço ou profissional experiente. No entanto, alerto que nenhuma terceira pessoa ou medicamento faz parar de fumar. Eles apenas auxiliam a passar por este processo da melhor forma, aumentando as chances de sucesso – que só será possível se o fumante estiver realmente determinado a parar.
4) Como funciona o controle do tabagismo nos programas de Reabilitação Cardíaca?
Dr. Lourenço: Geralmente, os pacientes cardiopatas são encaminhados ao programa de reabilitação após um evento de agravo ao coração. Por vezes, o paciente que é encaminhado ao programa já chega com a consciência da necessidade de parar de fumar e/ou decidido a isto.
Atribuo este comportamento ao choque e temor que um evento cardíaco traz ao paciente, como se fosse um: “presta atenção, o que estou fazendo comigo?”. Abordar o assunto e reafirmar a orientação da necessidade de parar de fumar é importante neste momento. O paciente está, na maior parte das vezes, sensibilizado a mudar os hábitos de vida para melhor. O programa de reabilitação cardíaca consiste justamente em estimular mudanças de hábitos a favor da saúde em diversas esferas.
5) Quais são os efeitos progressivos de parar de fumar? O que as pessoas sentem ao longo do tempo depois de abandonar o cigarro?
Dr. Lourenço: O ex-fumante muitas vezes comenta: “por que eu não parei de fumar antes?”. Essa manifestação vai ao encontro dos benefícios por ocasião da cessação do tabagismo e em relação a melhora da percepção da qualidade de vida.
O ex-fumante diminui todos os riscos das doenças relacionadas ao cigarro de forma variada, a depender da quantidade de cigarros consumidos ao longo da vida e do tempo de cessação do hábito.
Após parar de fumar, a pessoa, ao longo do tempo, passa a ter uma qualidade de sono melhor, mais vigor e disposição. A saúde bucal melhora, acompanhada de mais palatabilidade pelos alimentos, menos infecções respiratórias, maior aceitação no convívio social, dentre outros.
Alguns pacientes, após um longo período de cessação – o qual é variável – podem passar a apresentar riscos para doenças cardiovasculares e pulmonar igual aos das pessoas que nunca fumaram.
No entanto, vale ressaltar que isto não é uma regra, pois é preciso considerar se o fumante desenvolveu alterações estruturais irreversíveis ao longo do período do hábito do tabagismo.
6) O senhor poderia deixar uma mensagem aos leitores sobre o tabagismo?
Dr. Lourenço: O hábito de fumar é muito nocivo à saúde e causa dependência a nicotina. Por isso é de difícil abstenção. Todo o esforço para evitar o início deste hábito é importante. Para quem é fumante, não deixe para decidir parar de fumar amanhã. Se necessário, procure orientação especializada. Hoje em dia existem vários recursos que auxiliam a alcançar este objetivo.
Sobre o autor:
Dr. Lourenço S.de Mara possui graduação em Medicina pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995), especialização em Medicina do Esporte pela Escola Paulista de Medicina e especialização em Clínica Médica / Medicina Interna pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Mestre em Ciências do Movimento Humano pela Universidade do Estado de Santa Catarina (2005). Doutor em Ciências do Movimento Humano pela Universidade do Estado de Santa Catarina (2013). É Sócio Diretor e Médico do Esporte com ênfase em Cardiologia na Clínica de Prevenção e Reabilitação CARDIOSPORT.